Maria Paula se encantou pela fotografia quando estava na faculdade de jornalismo, em 2011. Ela foi convidada a posar como modelo para um ensaio fotográfico. Foi sua primeira experiência. O convite foi feito pela fotógrafa Gisele Sanfelice, nos corredores da faculdade, em meio a uma aula e outra.

Esta experiência fez Maria Paula se aproximar significativamente da fotografia. Ela ficou encantada com a área, sentiu-se acolhida pelo ambiente e pela equipe, vislumbrou o caminho que gostaria de trilhar: proporcionar a outras pessoas – em especial as mulheres – a oportunidade de descobrir-se linda, de sentir-se acolhida e de construir autoconhecimento. Ou seja, exatamente o que ela sentiu.

Formou-se em 2014 na Universidade Metodista de São Paulo. Estagiou entre dezembro de 2012 e março de 2014 na redação multimídia da mesma universidade. Também atuou como produtora freelancer, na rádio ABC, entre abril e outro de 2014 e, desde março de 2015, trabalha empreendendo como fotógrafa.

Registro do primeiro ensaio fotográfico de Maria Paula modelando – Gisele Sanfelice em 2011

Maria Paula encara a profissão com viés artístico, pois a vê como um símbolo de resistência e de ativismo. Em geral, na fotografia artística, os fotógrafos têm mais liberdade, o que lhes permite desenvolver um trabalho mais original e subjetivo, subvertendo a forma tradicional de retratar a realidade como principal objetivo, de uma maneira que reflita a emoção do fotógrafo.

“Espero que elas consigam ver, através das minhas lentes, do meu olhar, a beleza que elas tem, que muitas vezes é negada pela sociedade que vive forçando nas mulheres um corpo padrão. Também espero que elas sintam a potência que elas tem, com sua história, seu corpo, do jeito que ele é.”  Nos explicou Maria Paula sobre sua proposta fotográfica. Ela fez desta arte seu ofício e sustento e, para isso, se especializou em ensaios fotográficos pré-matrimoniais, ensaios de crianças e de gestantes. Seu trabalho é, quase sempre, com modelos femininas.

Mais recentemente, entre 2020 e 2021, Maria Paula produziu a exposição MÃES INVISÍVEIS, que consistiu em uma mostra fotográfica que lança luz sobre as jornadas de mães, com diferentes tipos de deficiências físicas, que enfrentam, para além do desafio da maternidade, o preconceito e o capacitismo. Uma proposta que casa com os motivos que a levaram a ser fotógrafa, mostrar que a sociedade não vê pessoas com deficiência como capazes, talentosas ou com potencial, assim como, dar oportunidade para mulheres que, como ela, talvez se vejam com outros olhos ao participar de uma experiência fotográfica e se ressignifiquem.

Maria Paula contatou o Governo do Estado de São Paulo e, em reunião com representantes do poder público, explanou sua ideia de expor seu trabalho em estações do Metrô da capital paulista. A curadoria de projetos culturais que são expostos no Metrô é realizada pela Equipe de Coordenação de Atividades Culturais do Metro de São Paulo. São inúmeros critérios a serem atendidos, uma significativa papelada a ser preenchida, mais o tempo de análise, antes de conquistar a oportunidade de expor o trabalho em um dos espaços mais concorridos pelas agências de publicidade: as estações de Metrô de São Paulo, tendo em vista o grande número de público-alvo potencial que por elas circula.

Após a fase de análise, o projeto foi aprovado e a exposição, composta por 20 fotografias, ficou disponível nos seguintes locais e períodos: na estação Higienópolis-Makenzie entre 01 e 30 de outubro de 2020, na estação Fradique Coutinho de 02 a 30 de novembro de 2020 e na estação São Paulo-Morumbi entre 01 de dezembro de 2020 e 08 de janeiro de 2021.

Nas linhas de metrô da metrópole que exerce forte influência nacional e que tem significativa importância internacional, seja do ponto de vista cultural, econômico ou político, o projeto foi muito bem-sucedido, ao ponto de ter sido destaque no site oficial do Governo do Estado.

Quando perguntei sobre o sucesso da exposição, levando em conta as inúmeras matérias que foram produzidas enquanto a mostra artística ainda acontecia, Maria Paula afirmou: “Ainda não consigo ter total consciência disso, mas fico imensamente feliz quando recebo mensagens mostrando que, de alguma forma, meu trabalho, minha imagem, história, foi ponte pra aquela pessoa se aceitar, se entender e mães lidarem melhor com seus filhos com deficiência.” E completou: “Mudei muito, tanto profissionalmente quanto vida pessoal. Me aperfeiçoei na fotografia, estudei muito, troquei de equipamentos para trazer ainda mais qualidade ao meu trabalho e entendi cada vez mais a minha história, a minha luta por um mundo mais diversos, inclusivo, e futuro anticapacitista. Hoje minha vida pessoal e minha arte se unem em uma ferramenta política de transformação.”

A exposição “Mães Invisíveis” foi muito importante para Maria Paula, pois lhe deu a oportunidade de ouvir histórias de diferentes mães, a partir de suas perspectivas. Foi, de fato, um grande aprendizado.

Para demostrar a força do projeto, procurei uma das mães fotografadas para o Mães Invisíveis, Erica Andréa Martins, mais conhecida pelo seu pseudônimo: Mona Rikumbi. Mãe solo de Adetayo Ariel, em 2017, Mona foi a primeira mulher negra com deficiência, junto a sua colega Leonice Jorge, a atuar no palco do Theatro Municipal de São Paulo. Em 2020 foi uma das escolhidas para, através das lentes de Maria Paula, contar um pouco de sua história: “Eu não consigo ver a minha vida se não for atrelada a ele (Seu filho – Adetayo). Eu sei que o racismo faz ele correr riscos e o capacitismo faz a sociedade achar que não posso dar conta de ser mãe por ter uma deficiência. Mas o amor que temos, mostra que somos capazes de abraçar tudo!”, afirmou Mona.

Registro do projeto Mães Invisíveis feito por Maria Paula entre 2020 e 2021 modelando – Érica Andréa Mona Rikumbi

“A fotógrafa me seduziu no primeiro momento em que me convidou para fotografar. Até porque ela me convidou pouco tempo antes de terminar o projeto, me chamou para que o projeto fosse composto pela maior dversidade possível. Para expressar toda a identidade étnica do nosso país e levar o ensaio como um pedido de desculpas pela sociedade racista em que convivemos”.

Registro do projeto Mães Invisíveis feito por Maria Paula entre 2020 e 2021 modelando- Érica Andréa Mona Rikumbi

Em publicação no Instagram, no último dia da mostra, na estação São Paulo-Morumbi, da linha amarela do Metrô, Mona agradece o convite feito pela fotógrafa para participar do projeto, dizendo: “Galera!!! Hoje é o último dia da Exposição Mães invisíveis, de Maria Paula Vieira. Foi uma experiência incrível e visibilizar nossa existência, resistência e resiliência, e nossa luta constante enquanto mulheres, negras, e brancas, mães e com deficiências e demais especificidades, é nossa Gratidão pelo convite, parabéns a todas as participantes, e sigamos nosso caminho com sororidade.”

Em busca de representatividade, Maria Paula apostou na diversidade para desenvolver o projeto. Corpos reais e histórias de quebra de estigmas, rótulos e padrões. Suas lentes transmitem conforto em seu modo intimista de ser e espontaneidade em seu modo casual de se mostrar, alegria e leveza no seu modo infantil e familiar de trazer amor, de mostrar a beleza da vida em seus ensaios gestacionais e a paz de um amor bem vivido em seus trabalhos com casais. 

Apesar de ter sido o foco deste texto, Mães Invisíveis não foi o único trabalho desenvolvido por Maria Paula. Em 2022 ela teve a oportunidade de acompanhar a Copa do Mundo de Futebol da FIFA, a maior competição profissional de futebol do planeta, realizada no Qatar, um país rico financeiramente, mas que enfrenta críticas em relação à diversas denúncias de violações dos direitos humanos. Neste sentido, a fotógrafa não foi ao evento apenas para fazer uma cobertura esportiva, seu objetivo foi fazer uma análise completa sobre como o país árabe lida com as questões de acessibilidade.

Este tem sido o objetivo de Maria Paula em suas passagens por diferentes países do mundo. Através de suas lentes e de seu olhar, ela dá dicas de viagem e discute acessibilidade, não só para quem sofre com o capacitismo, mas também para quem o pratica. Em seu quadro PCD no Rolê, ela nos provoca a repensar nossos estereótipos.

As lentes da câmera fotográfica abriram os olhos de Maria Paula para a forma como ela se via. Agora ela usa a mesma ferramenta para abrir os nossos olhos!

Maria Paula modelando em 2023 para Rafaela Lima
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