No exato momento em que Katianne iniciou sua jornada pelas complexidades da adolescência, jamais poderia prever a reviravolta que transformaria sua vida. Em meio às metamorfoses físicas, emocionais e sociais, ela enfrentaria desafios que testariam sua resiliência de maneira extraordinária.

O artigo “Uma análise da adolescência ao longo da história” de Débora Motta, publicado em 12 de fevereiro de 2010, sexta-feira, por meio da plataforma da Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro, explora a etimologia do termo “adolescência”, derivado do latim “adolescens”, particípio passado do verbo “adolescere”, que significa crescer. No entanto, conforme aponta a autora, o conceito de adolescência como um período distinto entre a infância e a vida adulta é relativamente recente na história da humanidade.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) destaca que esse estágio de transição para a vida adulta está intrinsecamente ligado à responsabilidades e é marcado por significativas mudanças físicas, psicológicas e sociais. A puberdade, uma fase caracterizada por transformações intensas no corpo e na mente, acompanha esse processo de mudança.
Em 2013, a protagonista desta narrativa, Katianne, encontrava-se imersa nessas transformações. Sua vida tomou um rumo inesperado quando passou por um procedimento cirúrgico inicialmente bem-sucedido, mas que, após um mês, revelou-se malsucedido. Em suas palavras, Katianne descreve o impacto dessa reviravolta: “No começo, tudo é complicado, principalmente para alguém que era ativa. Eu tinha uma vida muito ativa, ia ao mercado fazer compras para casa, cuidava do meu irmão mais novo. Então, de repente, ficar na cadeira de rodas foi complicado.”
A mãe de Katianne destaca a jornada difícil que enfrentaram juntas, desde as dificuldades após o procedimento cirúrgico inicial até os momentos de internação e a falta de uma rede de apoio familiar. Essa experiência desafiadora, embora dolorosa, contribuiu para a construção de uma relação profunda, marcada por amor, carinho, admiração e respeito.
A revelação do diagnóstico de um cisto aracnóide, uma condição rara que poderia levar à paraplegia, acrescenta uma dimensão intensa à narrativa. O impacto dessa descoberta, juntamente com a necessidade urgente de outro procedimento cirúrgico, revela as complexidades do enfrentamento de Katianne e sua família.
A entrevistada, que necessitava de mais um procedimento cirúrgico, desta vez com urgência, recorreu ao convênio médico com a família para tentar a liberação. Contudo, essa liberação demorou a ser realizada, e os trâmites relativos a isso ainda estão em segredo de justiça, razão pela qual não temos muita informação sobre essa parte da narrativa.
Foi assim que Katianne testemunhou o desenvolvimento da paraplegia, rendendo-se, então, à depressão. A partir desse momento, começou a conhecer de perto quem realmente estava ao seu lado, quem a considerava genuinamente e quem faria parte de sua vida e jornada.
Depois de enfrentar a depressão causada por todos esses acontecimentos, em 2016, ela decidiu mudar-se de estado. Anteriormente, havia residido em várias cidades mato-grossenses. Agora, chegava a Curitiba, capital do estado do Paraná. Foi nesse período que optou por compartilhar sua vida, rotina e histórias por meio do YouTube. Além disso, devido à mudança, conheceu seu médico urologista, Dr. Rogério de Fraga, que se tornaria uma peça-chave e figura essencial para o desenvolvimento de Katianne Thaiz.
Em 2017, concluiu o ensino médio e iniciou os preparativos para o vestibular. Devido às diversas internações decorrentes da paraplegia nesse período, sua vida acadêmica no ensino fundamental e médio foi consideravelmente prejudicada, resultando em uma defasagem em sua educação no ensino público. A partir desse ano, começou a conciliar sua rotina entre aulas particulares de exatas e dois cursos pré-vestibulares online.
O dia 14 de agosto de 2019, uma quarta-feira, carregaria um significado imenso na vida da personagem, pois foi nessa data que recebeu a confirmação de sua aprovação no curso tão sonhado, através da quinta chamada nominal do Sistema de Seleção Única (SISU), um programa governamental de incentivo à educação superior. Assim realizou um sonho almejado por muitos. Conseguiu uma vaga em um dos cursos mais concorridos de toda a universidade, com mais de 104 anos de história. Faz parte da turma 161 do curso de Medicina da Universidade Federal do Paraná, um dos cursos mais antigos do país, tendo formado sua primeira turma em 1919.
Em um de seus relatos, ela mencionou que foi questionada por um familiar sobre sua capacidade de exercer a profissão de médica numa cadeira de rodas: “Como você vai ser médica numa cadeira de rodas? Isso não é possível!” Thaiz respondeu: “É possível sim, vou mostrar que é possível. Só o fato de já estar fazendo uma faculdade mostra que eu dou conta, não tem essa. Independente do que as pessoas achem ou pensem, vou conseguir. Me sinto na obrigação de conseguir para mostrar que sou além da minha deficiência.”
Após a matrícula, começou a se adaptar à sua nova rotina, que se tornou acelerada. Durante um mês, duvidou de sua própria capacidade. Entretanto, algo a surpreendeu novamente, assim como no início da narrativa. No mesmo período em que a Covid-19 assolava o mundo, ela, assim como todos nós, aderiu ao ensino remoto emergencial. A estudante de medicina retornou às aulas presenciais depois de certo tempo e foi surpreendida por mais um choque de realidade, reiniciando o processo adaptativo interrompido anteriormente devido à pandemia.
Seus planos para residência médica ainda estão em formação, incluindo opções como a medicina operacional, também conhecida como medicina do trabalho. Essa especialidade se dedica ao cuidado e tratamento de militares e outros profissionais que atuam em ambientes operacionais de alto risco. O objetivo é garantir que esses indivíduos estejam em condições de saúde adequadas para realizar suas funções de forma eficiente e segura. Além disso, a medicina operacional se preocupa em prevenir e tratar doenças e lesões específicas que podem ser causadas pelo ambiente operacional. A influência da futura médica nessa área vem de familiares muito próximos que já atuam como técnicos de segurança.
Outras possíveis especialidades que ela considera são:
Psiquiatria: A relação entre a futura médica e essa área se desenvolveu por meio do conhecimento adquirido em aulas universitárias sobre assuntos pertinentes à psiquiatria. Isso envolve a compreensão da interação entre fatores biológicos, psicológicos e sociais.
Dermatologia: O interesse pela área estética medicinal, abrangendo peles, cabelos, unhas e problemas estéticos como acne e manchas, contribui para a relação da futura médica com a dermatologia. Inclui também a consideração de questões mais graves, como o câncer de pele.
Pediatria: Sua relação com esta área começou quando conheceu seu irmão caçula, Kalebe, em 15 de maio de 2018. Mantendo uma espécie de relação materna com o garoto, essa especialidade tornou-se significativa para ela, principalmente por ser a irmã mais velha.
No entanto, entre os espinhos do passado e as promissoras flores do futuro, Katianne encontra sua força na adversidade. Cada obstáculo superado, desde as sombras da depressão até os desafios acadêmicos, contribuiu para esculpir uma narrativa de resiliência. Sua jornada acadêmica, agora focada na urologia, revela não apenas uma paixão pelo conhecimento, mas também um firme propósito de aplicar sua experiência pessoal para impulsionar avanços na área médica. Ao embarcar em sua missão de desenvolver o aplicativo “Joia” e ao almejar especialidades como a medicina operacional, psiquiatria, dermatologia e pediatria, Katianne não apenas molda seu destino, mas também se torna um farol de esperança para outros navegando em mares desafiadores. Assim, cada página de sua vida é entrelaçada com a promessa de um amanhã repleto de realizações inspiradoras.
Katianne está desenvolvendo seu trabalho de conclusão de curso na área de urologia. Seu grupo, escolhido pela equipe responsável pelo desenvolvimento do aplicativo “Joia”, liderado pelo Dr. Rogério de Fraga, tem como função principal criar questionários na área de urologia. Esses questionários são testados com pacientes com síndrome do trato urinário inferior com 50 anos ou mais. O aplicativo funciona como um assistente virtual para organizar informações sobre a saúde dos usuários, colaborando na manutenção e monitoramento de suas condições. Denominado “Joia”, o aplicativo tem o propósito de agilizar e reduzir o tempo de espera para consultas, fazendo alusão a uma pedra preciosa para enfatizar a importância de zelar pela saúde como cuidar de uma joia preciosa.
Para os próximos passos a serem trilhados, a personagem ainda sonha em ter a experiência de um plantão noturno. Também almeja abrir seu próprio consultório, utilizando a tecnologia a seu favor e contando com as vantagens da telemedicina. A experiência de um plantão pode não ser algo fácil e imediato na vida de nossa personagem, pois ainda falta algum tempo até que esse sonho se torne realidade. Quem sabe até lá a acessibilidade e a conscientização sobre o capacitismo possam ser aprimoradas. Dessa forma, essa história poderá ser contada várias e várias vezes, inspirando cada vez mais pessoas a perseguirem seus objetivos até o fim, para que suas jornadas se tornem plenas, assim como a jornada de Katianne, construída com muito esforço, dedicação e persistência.
À medida que Katianne se prepara para os próximos capítulos de sua vida, entre residência médica e sonhos de um consultório próprio, ela se torna uma inspiração viva de superação. Sua história é um lembrete de que, independentemente das circunstâncias, a determinação e a paixão podem transformar desafios aparentemente intransponíveis em conquistas notáveis. Que sua jornada continue a inspirar e iluminar caminhos, demonstrando que cada obstáculo pode ser vencido com resiliência, dedicação e a certeza de que somos todos capazes de ir além de nossas limitações.
