No Brasil, o acesso a direitos educacionais como acompanhamento escolar, adaptações curriculares ou apoio individualizado ainda depende, em muitos casos, da apresentação de um laudo médico.
O laudo, que deveria orientar o cuidado, acaba se tornando condição de acesso — como se fosse preciso provar que aquela criança merece aprender.
Esse é o tema do episódio 25 do podcast Diálogos Despatologizantes, em que Rosangela Villar, Bárbara Costa Andrada e Ricardo Lugon analisam como o laudo, ao invés de incluir, muitas vezes separa.
A criança como problema
Quando uma criança é inquieta ou dispersa, a resposta mais comum é buscar diagnóstico. A escola deixa de se perguntar o que o ambiente produz e passa a procurar um nome para o comportamento.
A responsabilidade recai sobre a criança. A comunidade se isenta. O cuidado vira correção.
O que o diagnóstico não conta
Faltam professores, sobram metas. Faltam vínculos, sobram protocolos. Mas nada disso aparece quando o foco está apenas no laudo.
E quem não tem laudo? Continua sem apoio. Invisível.
Medicalização e ausência de escuta
Em muitos lugares, a ausência de acolhimento leva à medicalização precoce. Psicofármacos entram onde faltam vínculos.
Bárbara Costa Andrada lembra que algumas redes chegam a acionar a polícia para “conter” comportamentos. O cuidado é substituído pela punição. O medo ocupa o lugar da confiança.
O SUS propõe outro caminho
No SUS, o diagnóstico não é senha, mas parte de um processo maior: escuta, vínculo, diálogo entre áreas.
O cuidado é coletivo, contínuo e compartilhado. O laudo é instrumento — não porta de entrada.
Toda criança tem direito de aprender — com ou sem laudo.
Precisamos de escolas que reconheçam a diversidade como potência e que ofereçam apoio sem exigir comprovação.
Porque o cuidado começa com presença. E quem escuta de verdade, já começou a cuidar.
